Aventura em duas rodas
Sou apaixonado por roteiros ecológicos. Adoro pedalar e conhecer locais diferentes montado em uma bicicleta. Para mim, pedalar chega a ser uma terapia. Apesar de eu já ter feito pedais relativamente longos, eu nunca tinha tido a experiência de fazer uma cicloviagem. A ideia de conhecer o Lagamar foi inspirada no relato de um rapaz chamado Gustavo que em 2012 fez uma cicloviagem iniciando na Serra da Graciosa no Panará até a cidade de Paraty no Rio de Janeiro – cruzando o todo o litoral paulista, totalizando dez dias de pedal.
Realizar uma cicloviagem é algo que demanda planejamento, disciplina e uma certa dose de coragem. São muitas as variáveis e os riscos envolvidos quando pensamos em fazer um trajeto muito extenso em locais onde praticamente não há muitas opções para se pedir ajuda em caso de eventual necessidade. Por conta disto, o primeiro passo para que a cicloviagem se tornasse realidade era encontrar alguém que topasse encarar esta aventura. Comentei com o meu amigo André sobre a viagem. Inicialmente ele disse que eu era doido e não apoiou muito a iniciativa. Entretanto, após certa insistência ele acabou topando.
A ideia não era repetir todo o roteiro realizado pelo Gustavo. Nossa ideia inicialmente era começarmos o pedal na Serra da Graciosa e irmos até Peruíbe. Porém, como já havíamos realizado o trajeto entre Peruíbe e Iguape pela Trilha do Despraiado em certa ocasião, decidimos irmos somente até Iguape.
Por conta de imprevistos, trabalho e faculdade, tivemos que adiar os planos da cicloviagem três vezes. Tardou pouco mais de um ano até que todos os imprevistos fossem sanados e conseguíssemos marcar a tão esperada data: 27 de Julho de 2015, seria o grande dia! A data foi estrategicamente escolhida por não coincidir com nenhum feriado prolongado, pelo período de férias escolares já terem terminado e, também, por conta de ser inverno poderíamos aproveitar preços muito mais baixos do que se fossemos no verão ou em períodos de maior movimentação de turistas.
Com a data marcada, o próximo passo seria iniciarmos o planejamento da viagem. A nossa ideia era pegarmos um ônibus no Terminal Barra Funda ou Tietê sentido Curitiba para podermos acessar a Estrada da Graciosa onde a cicloviagem se iniciaria - no município de Quatro Barras, cerca de 35 km de Curitiba. Só ai já poderíamos ter três problemas: O primeiro, seria a logística para chegar ao terminal rodoviário com as bikes. Segundo, o motorista poderia mandar tirarmos uma roda e embalar as bicicletas para guarda-las no bagageiro do ônibus o que nos daria trabalho e nos tomaria tempo. Terceiro, o motorista poderia não aceitar que descêssemos no Portal da Graciosa, uma vez que seria necessário abrir o bagageiro e muitas empresas não autorizam o motorista abri-lo no meio da estrada – o que poderia nos causar atrasos e mudanças em nossos planos.
Buscando alternativas para contornarmos esses problemas, acabamos comentando a situação com o nosso amigo, o Luciano, que mora em Iguape e ele nos informou que se pegássemos o ônibus em Iguape sentido Curitiba além de ser mais perto do que pegar em São Paulo, o motorista abriria o bagageiro no Portal da Graciosa. Isso facilitaria muito a nossa vida. Com isto, mudamos nossos planos e decidimos colocar as bikes no carro e irmos para Iguape. Deixaríamos o carro na casa do Luciano - que, gentilmente, permitiu que assim o fizéssemos – e assim poderíamos embarcar na Rodoviária de Iguape sentido Curitiba.
Resolvido este primeiro impasse, passamos a definir o cronograma da viagem: Quais seriam os pontos que iríamos visitar e quanto tempo iriamos ficar em cada lugar. Com isso, chegamos à conclusão que a programação da viagem deveria ocorrer da seguinte forma:
1º dia: Descida da Serra da Graciosa até Paranaguá
2º dia: Travessia Paranaguá até a Ilha do Mel
3º dia: Ilha do Mel – Praias Grande e do Miguel e Grutas das Encantadas
4º dia: Ilha de Superagui (PR) até Ilha do Cardoso – Núcleo Marujá (SP)
5º dia: Ilha do Cardoso – Praias de Marujá, Lajes, Foles, Folinho e Cambriu
6º dia: Cananéia, Ilha Cumprida e Iguape
Definido o cronograma e os roteiros a serem seguidos, passamos a coletar informações sobre os custos envolvidos para estimarmos o orçamento que seria necessário para concluirmos a viagem sem transtornos. Primeiramente, o custo que teríamos para iniciar a viagem seria a compra das passagens para Curitiba. Consultamos pela internet e o valor das passagens de Iguape para Curitiba ficariam por volta de R$ 47,00 por pessoa. O primeiro ônibus que segue este itinerário sai às 7:30 da manhã da Rodoviária de Iguape. Entretanto, como nós moramos no ABC Paulista, teríamos que chegar em Iguape um dia antes, no dia 26 de julho de 2015.
Como é possível observar no cronograma, passaríamos por diversas ilhas – Ilha do Mel, Ilha de Superagui, Ilha do Cardoso, Cananéia, Ilha Cumprida até retornarmos a Iguape - e o acesso a elas se dá unicamente por meio de barcos. Detalharei melhor nos próximos capítulos.
Cicloviagens são muito emocionantes e a emoção começa ainda na fase de planejamento. Tenha em mente que tudo pode acontecer durante a viagem e para que você possa aproveitá-la mitigando os riscos envolvidos, deixo aqui algumas dicas que são fundamentais:
• Evite grupos muito grandes ou pessoas sem preparo físico e/ou amadoras. Pessoas sem preparo podem comprometer o desempenho do grupo como um todo. Lembre-se o grupo acabará sendo influenciado pelo integrante que tiver o desempenho mais baixo durante o pedal;
• Otimize a organização de sua bagagem levando apenas o necessário, e somente o necessário. Excesso de peso reduz o desempenho do pedal;
• Leve ferramentas, câmeras e bomba de pneus para utilização em caso de eventual emergência;
• Água é fundamental nestas horas;
• Faça uma revisão geral em sua bike antes da viagem.
27 de Julho de 2015
1º Dia: Serra da Graciosa até Paranaguá
No dia de nossa viagem, levantamos às 6:00 da manhã para termos tempo de tomar café na rodoviária. Deixamos o carro e a chave com o Luciano, nos despedimos dele e seguimos rumo ao terminal rodoviário de Iguape onde chegamos cinco minutos depois em meio a um friozinho e um leve nevoeiro. Assim que chegamos lá, havia apenas um barzinho aberto. Apesar de ainda não ter nada para comer, o café já estava pronto. O André e eu pedimos um copo de café cheio e compramos um pacote de bolachas para driblar a fome, enquanto esperávamos a chegada do ônibus.
Às 7:00 o ônibus deu entrada na plataforma. Imediatamente, o André e eu procuramos o motorista e perguntamos se seria necessário embalarmos as bicicletas. O motorista era um rapaz muito simpático, e nos informou que poderíamos guardar as bicicletas em pé no cantinho do bagageiro sem a necessidade desmontá-las e/ou embalá-las. Aproveitamos a simpatia do motorista e perguntamos se ele poderia abrir o bagageiro no Portal da Graciosa, uma vez que nós iriamos descer para Paranaguá. Ele nos informou que na cidade de Registro – onde o ônibus iria fazer uma parada – ele iria trocar com outro motorista e, por isso, teríamos que conversar com ele.
O ônibus partiu de Iguape às 7:30 da manhã em ponto. Passamos pela Rodoviária da cidade de Pariquera-Açu, chegando em Registro por volta de 9:00 da manhã. Chegando lá, o André procurou o motorista que conduziria a viagem até Curitiba. O André perguntou ao motorista se ele poderia nos deixar no Portal da Graciosa e ele nos informou que sim e que quando chegássemos lá próximo ele nos avisaria.
Pois bem, com estas questões resolvidas não teríamos problemas de atrasos e tudo estava acontecendo conforme planejamos. Estimamos chegar no Portal da Graciosa por volta de 11:30 ou 12:00 já considerando que teríamos que chegar em Paranaguá ainda naquele dia, arrumarmos um lugar para passar a noite e seguirmos para a Ilha do Mel no dia seguinte pela manhã.
Durante a viagem, o clima começou a se manifestar a nosso favor. O céu azul e o sol brilhando forte sem quaisquer nuvens dava indícios de que passaríamos bons momentos durante a decida da Serra da Graciosa. Durante a viagem observamos as paisagens da BR 116 que atravessa importantes remanescentes da Mata Atlântica como o Parque Estadual da Barra do Turvo que possui formações naturais espetaculares.
Às 12:00, o motorista nos avisou de que estávamos chegando no Portal da Graciosa. Assim, ele parou no acostamento, abriu o bagageiro e tiramos as bikes e nossas mochilas do ônibus. Agradecemos ao motorista pela gentileza e ele seguiu viagem. O André e eu amarramos as mochilas nos bagageiros das bikes, tiramos algumas fotos do Portal da Graciosa e iniciamos o pedal, às 12:15.
Portal da Graciosa – Quatro Barras (PR)
Nos primeiros 3 quilômetros de pedal, a estrada possui alguns aclives que tornaram o pedal um pouco cansativo, por conta da bagagem que carregávamos nas bikes. O André chegou a se queixar de mal estar por conta do forte calor que fazia no dia, do trajeto acidentado e do peso de sua bicicleta. Empurramos as bikes por um trecho até chegar no início da descida da Serra. Às 13:10, chegamos ao Recanto Engenheiro Lacerda, onde é possível apreciar um belo mirante da Baía de Paranaguá e da cidade de Antonina.
Mirante da Graciosa – Recanto Eng. Lacerda – Vista para a Baía de Paranaguá e Antonina
Como o André estava se sentindo um pouco mal, ele se deitou em um banco que tinha lá no mirante para descansar. Ele ficou chateado porque estava achando que ele iria atrasar o passeio. Falei para ele descansar e que se ele não conseguisse seguir viagem até Paranaguá poderíamos ficar no centro de Morretes – primeira cidade após a descida da serra. Após 40 minutos descansando, por volta de 13:50, o André disse que já estava melhor e que era para seguirmos viagem.
A Estrada da Graciosa é como a antiga Estrada Velha de Santos: cheia de curvas acentuadas e íngremes que a tornam muito perigosa, principalmente em dias de chuvas, onde a pista se torna muito escorregadia. Para piorar, cerca de oito quilômetros de sua extensão total são compostos de trechos de paralelepípedos, que aumentam ainda mais o risco de acidentes. Felizmente, o dia estava muito bom, com sol e céu aberto, e sem indícios de chuva ou neblina. Mesmo assim, é necessário descer freando para evitar derrapagens ou colisões frontais ou traseiras com veículos que descem e sobe a serra a todo momento. Apesar de perigosa, o visual da Estrada da Graciosa encanta pela visão de belos picos, vegetação, paisagens e rios que são passiveis de contemplação durante a decida da serra.
Pico Marumbi
Curvas Sinuosas da Estrada da Graciosa
Às 14:50 chegamos na ponte metálica sobre o Rio Mãe-Catira, que foi alvo de um breve pit-stop para algumas fotos. Coincidentemente é exatamente neste ponto onde termina o trecho de paralelepípedos e começa o trecho asfaltado. Continuamos o pedal até que chegamos no entroncamento entre as Rodovias PR 410 e PR 411. Deixamos a Estrada da Graciosa e entramos na PR-411 – Rodovia Marcondes Lobo sentido Morretes. A estrada neste trecho é plana, sem muita movimentação de veículos. A partir daí são 13 quilômetros até a cidade de Morretes.
A estrada margeia o Rio Nhundiaquara em alguns trechos onde foi possível ver um pessoal aproveitando o forte calor para se refrescar em suas águas. Passamos pela Ponte Velha sobre o rio às 15:25, de onde era possível ver de perto o Pico Marumbi. Tiramos algumas fotos do local e seguimos o pedal. Às 15:50, chegamos ao Centro Histórico de Morretes.
A cidade em si é bem simpática. Tem casarões históricos, porém não havia grande movimentação de pessoas, não sei se por conta do horário. O André, como tinha tido um mal estar no início do pedal, resolveu entrar numa farmácia para comprar uns remédios. Para variar, foi mal atendido por uma farmacêutica com cara de poucos amigos. Apesar do ocorrido, não deixamos isto estragar o passeio. Aproveitando a ocasião na cidade, André decidiu ir atrás do típico prato local: o Barreado. Paramos em um restaurante e o André pediu o tal prato. Eu acabei tomando um suco e comendo amendoim mesmo, enquanto o André experimentou o barreado que na verdade é muito parecido com carne maluca servido com salada de maionese e bananas.
Morretes (PR)
Às 16:20, decidimos seguir viagem rumo à Paranaguá. A ideia era chegarmos lá o mais cedo possível, encontrarmos um hotel barato para tomar banho e passar a noite e seguirmos para a Ilha do Mel na manhã do dia seguinte. Pedalamos pela PR 408 - Rodovia Deputado Miguel Bufara sentido Paranaguá. A estrada não tem acostamento e, diferente da PR 410, é cheia de aclives, o que tornou a viagem bem cansativa por conta da bagagem. Pedalamos por esta estrada até o entroncamento com a BR 277 – Rodovia Grande Estrada, onde chegamos por volta das 18:00.
Por ser inverno, esse horário já estava escuro, a rodovia não possuía iluminação, o tráfego de caminhões era intenso e ainda estávamos na contra mão. Por isto, achamos menos pior atravessá-la para poder pedalar na mão correta. O medo foi grande, justamente por conta dos caminhões que passam pela estrada, alguns em alta velocidade. O risco de acidentes era muito grande. Essa foi, sem sombra de dúvidas, a parte mais perigosa da viagem. Mas graças a Deus, conseguimos cruzar a rodovia e passamos a pedalar na mão certa. Ligamos os pisca-alertas das bikes e seguimos viagem.
Apesar da escuridão e do receio de pedalar a noite numa estrada que não conhecíamos, tudo deu certo. Às 19:30 chegamos na entrada de Paranaguá. O próximo passo, agora, seria encontrarmos um local para passar a noite. Pedimos informação e uma moça nos informou que encontraríamos pousadas no centro histórico, sendo mais fácil seguirmos pela ciclovia da avenida Av. Bento Munhoz da Rocha Neto. Agradecemos a moça e seguimos viagem. Foram quase 10 quilômetros pedalando por esta avenida até o centro da cidade. Paramos em uma praça para comer amendoins, porque estávamos famintos depois de pedalar mais de 40 quilômetros entre Morretes e Paranaguá.
Logo em seguida, começamos a pesquisar os preços nos hotéis e os valores eram os mais variados: O mais caro sairia por R$ 150,00 e o mais barato R$ 80,00 para duas pessoas com café da manhã inclusos. Optamos pelo mais barato, obviamente. O rapaz da recepção era um português muito simpático e nos atendeu muito bem. Acertamos o pagamento com ele, deixamos as bikes na garagem do hotel e fomos dormir pois no dia seguinte teríamos que acordar cedo para atravessar para a Ilha do Mel.
28 de Julho de 2015
2º Dia: Travessia Paranaguá até a Ilha do Mel
Na manhã do dia seguinte, acordamos cedo e já deixamos as mochilas arrumadas. O hotel começava a servir o café da manhã a partir das 7:00 da manhã. Descemos para o refeitório para tomarmos café. Decidimos não demorar para podermos comprar os ingressos para a Ilha do Mel e garantirmos o nosso lugar no barco. Durante a fase de planejamento da viagem descobrimos que durante a semana saem apenas dois barcos por dia de Paranaguá para a Ilha do Mel: às 9:30 e as 15:30. Portanto, se perdêssemos o primeiro barco isso acabaria atrasando um dia inteiro o cronograma de nossa viagem, por isso tínhamos que ser pontuais.
Pedimos informações para algumas pessoas de onde poderíamos comprar as passagens para a Ilha do Mel. Às 8:20 chegamos no casarão onde são comercializados os ingressos, porém o mesmo encontrava-se fechado. O horário de abertura era às 9:00 da manhã. Enquanto aguardávamos a abertura do estabelecimento para comprar os ingressos, eis que surge um “hermano” e grita para nós: “¿Ustedes van a la Ilha do Mel?”. Na hora tínhamos pensado que era a pessoa responsável pelos passeios de barco em busca de turistas. Começamos a conversar com o senhorzinho, e descobrimos que ele, na verdade, era um turista argentino, chamado Juan Carlos, que dizia ser artista plástico aposentado e que viajava o mundo conhecendo novos lugares. Ele falou que morava em Buenos Aires e que havia trinta anos que ele frequentava Paranaguá e que ele adorava o Brasil e de tempos em tempos ia lá passar para passear.
Papo vai, papo vem, ele nos perguntou de onde estávamos vindo e dissemos que de São Paulo e ele, então, nos disse assim: “La única cosa que me gusta en Sao Paulo es el MASP”. Por ser artista plástico, ele nos disse que a arquitetura e as obras de arte que estão expostas lá são muito bonitas. Confesso, com certa vergonha, que nunca visitei nenhuma exposição no MASP, mas como diria um colega: “É a vida...”. Ficamos um bom tempo conversando com o argentino até o casarão abrir as portas.
Às 9:00 compramos as passagens para a Ilha do Mel, ao preço de R$ 20,00 por pessoa somente ida. Nós já tínhamos nos planejado de ficar na Praia de Brasília – primeira parada do barco – e o argentino iria para as Encantadas – segunda e última parada. Com os ingressos comprados, o André e eu dissemos ao Senhor Juan que iríamos dar umas voltas pela cidade para tirar algumas fotos do Centro Histórico de Paranaguá, mas que nos encontraríamos novamente no barco e assim fomos. Confesso que me impressionei com os casarões antigos de Paranaguá. Alguns muito bem conservados outros nem tanto, mas em linhas gerais gostei bastante da cidade. O povo é muito hospitaleiro. Realmente tivemos boas impressões da cidade e recomendo àqueles que tiverem vontade que visitem Paranaguá.
Às 9:20, decidimos retornar ao píer – ou trapiche, no dialeto local – para embarcarmos para a Ilha do Mel. O barco saiu com apenas cinco minutos de atraso – às 9:35. Acredito que a embarcação comportava umas sessenta pessoas ou mais, porém apenas dez ou doze assentos foram ocupados. Durante a viagem, começamos a conversar com um nativo e ele nos deu algumas dicas de onde poderíamos nos hospedar na Ilha, locais para comer e os pontos turísticos que poderíamos visitar. O tempo, durante a travessia, estava meio nublado parecendo que não iria nos favorecer, como no dia anterior. Após quase duas horas de barco, desembarcamos no trapiche da Praia de Brasília, às 11:20 da manhã.
Assim que chegamos à Ilha do Mel, nos dirigimos ao Centro de Visitantes em busca de informações sobre hospedagem. O rapaz que estava na recepção nos informou que no acesso à trilha, logo na saída do Centro, haviam muitas opções. Pois bem, seguimos pela trilha e notamos que realmente existiam diversos campings e pousadas bem próximos uns dos outros – alguns chegavam a ser vizinhos. Entramos em alguns para perguntar os preços e nos impressionamos com a discrepância de valores: Encontramos estabelecimentos que cobravam R$ 120, R$ 130, R$ 150 até R$ 200 reais a diária para duas pessoas. Como já havíamos feito pesquisas durante o planejamento da viagem, sabíamos que era possível arrumar pousadas por valores muito inferiores a estes que nos passaram.
Continuamos andando na trilha e o André parou em um camping para perguntar o preço. O rapaz que o recepcionou informou que custava R$ 30,00 a diária por pessoa com chuveiro quente, wi-fi e cozinha coletiva. Como tínhamos trazido barraca até pensamos em ficar no camping. Porém, em frente ao camping, vimos uma outra pousada e decidimos perguntar o preço apenas por desencargo de consciência: Quem nos recebeu foi a Dona Alice e seu marido Junior, muito receptivos e simpáticos, nos informaram que a hospedagem ficaria R$ 35,00 por pessoa, incluso chuveiro quente e café da manhã. Ai, obviamente, preferimos pagar os R$ 5,00 a mais para ficar na pousada a ficar no camping.
Com hospedagem garantida, deixamos as mochilas na pousada e partimos para conhecer os primeiros pontos turísticos da Ilha: Visitaríamos naquele dia o Farol das Conchas e a Fortaleza.
Seguimos pedalando pela trilha até a bifurcação que dá acesso as escadas que levam ao farol. Estacionamos as bikes ao lado da entrada da trilha e subimos a pé até o farol. De lá é possível ter uma visão privilegiada do Istmo, da Praia Grande e da própria Fortaleza. Apesar de alguma nebulosidade que cercava o local, o visual mantinha sua beleza e cenário indescritíveis.
Panorâmica do Mirante do Farol das Conchas
Após a contemplação no Farol das Conchas decidimos ir almoçar pois estávamos famintos, já que só tínhamos tomado café da manhã no hotel em Paranaguá. No meio do caminho para o Farol vimos um restaurante chamado “Mar e Sol”, no qual já tínhamos tido boas referências. O ambiente, atendimento e a comida do local são muito boas e o preço é justo! Não estou ganhando nada para fazer propaganda do local. Estou falando bem, porque o restaurante tem, sim, os seus méritos! Se você estiver perto do Farol, recomendo conhecê-lo.
Uma coisa engraçada e um tanto quanto curiosa ocorreu conosco enquanto estávamos almoçando neste mesmo restaurante: O garçom estava encostado no muro bem próximo da mesa onde eu estava sentado. De repente ele começou a chamar por “Junior” e olhando para o outro lado do muro. Eu cheguei a pensar que ele estava chamando um cachorro. Daqui a pouco, pousa na mureta – de cerca de 1 metro de altura – o Junior: Um lindo papagaio que é criado solto por lá. Foi realmente uma cena bem curiosa e muito legal de se ver. Na hora, uma senhora oriental, pegou o celular e começou a tirar fotos do Junior. Ele, com certeza, virou o centro das atenções no restaurante.
Júnior, o papagaio no restaurante Mar & Sol - Ilha do Mel
Após o almoço, seguimos pedalando rumo à Fortaleza – já no território da Estação Ecológica da Ilha do Mel. O tempo havia mudado novamente, onde a neblina deu lugar ao céu azul e um sol gostoso no meio da tarde. Às 14:40 chegamos na Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres. No local há diversos canhões antigos que foram construídos na era colonial com o intuito de proteger a “Vila de Paranaguá”. A história escondida neste lugar é fascinante.
Além dos canhões, outro ponto interessante e passível de visitação é um mirante com vista panorâmica para toda a parte norte da Ilha do Mel e da Ilha das Peças. Para acessá-lo, é necessário subir uma trilha de cerca de 500 metros de extensão até o topo do morro onde é possível apreciar a paisagem:
Mirante da Fortaleza – Vista Panorâmica da Ilha do Mel, do Mar e da Ilha das Peças
Após contemplarmos a arquitetura e o Mirante da Fortaleza, decidimos retornar. A tarde estava tão linda, que o André e eu decidimos voltar no Farol das Conchas para tirar outras fotos com o tempo mais aberto, pois quando estivemos havia uma certa névoa e as fotos não ficaram tão boas. Às 17:00 chegamos ao topo do farol. Aproveitamos para fazer algumas fotos do pôr do sol.
Pôr do sol no Farol das Conchas
Após diversos cliques do farol e do pôr do sol, retornamos à pousada para tomar banho e, logo em seguida, saímos novamente para jantar. Às 20:00, já cansados, decidimos voltar e dormir, pois no dia seguinte queríamos acordar cedo para conhecer os demais pontos turísticos da Ilha do Mel.
29 de Julho de 2015
3º Dia: Ilha do Mel – Praias Grande e do Miguel e Grutas das Encantadas
Na manhã seguinte, acordamos por volta de 7:00 da manhã. Às 8:00 fomos tomar café. O dia amanheceu sob uma leve névoa úmida. Chegamos a pensar o dia não estaria para praia. Conversamos com o Junior, o dono da pousada, e ele nos disse que a nebulosidade na Ilha é fenômeno bastante frequente. A única coisa que tínhamos certeza era que com névoa ou sem névoa, com chuva ou sem chuva não iríamos ficar de molho chorando a “morte da bezerra”.
Após o café da manhã, pegamos as bikes e seguimos em direção à Gruta das Encantadas. Passamos, primeiramente, pela Praia Grande. A passagem por ela teria sido muito monótona se não fosse a parte sul: Para avançarmos para a praia seguinte, a do Miguel, seria necessário atravessar um trecho de cerca de 200 metros entre as pedras que separam as duas praias. Não haveria problema algum em atravessá-las se estivéssemos a pé. Porém, como estávamos de bike e não havia como desviar das pedras, o jeito foi carregar as bicicletas até o outro lado. Os riscos de passar pelas pedras com as bikes nas costas são muito grandes: Quedas, acidentes ou mesmo risco de danificá-las. Por isso foi preciso atenção redobrada para que nenhum incidente ocorresse. Levamos cerca de 20 minutos para cruzar as pedras mas, felizmente, tudo deu certo.
A Praia do Miguel tem cerca de 800 metros de extensão. Ao sul dela, inicia-se a trilha do Morro do Sabão, muito bem demarcada e possível de ser avistada da própria praia. Diferentemente dos obstáculos que tivemos para atravessar as pedras da Praia do Miguel, na trilha não tivemos quaisquer dificuldades a não ser pelo desnível que logo foi superado. Percorremos os cerca de 300 metros da trilha até chegarmos a outro belo mirante, agora da Praia do Mar de Fora que foi alvo de diversos cliques.
Após fotografarmos a paisagem, descemos o morro para acessarmos a praia. Além do daquele primeiro mirante, haviam mais dois nesta mesma praia: Um na ponta norte – onde está localizada a capela São Francisco de Assis - e outro na ponta sul. Ambos permitem fotografar a Praia do Mar de Fora de diversos ângulos diferentes.
Mirante do Morro do Sabão
Seguimos pela praia rumo à Gruta das Encantadas. O sol estava escaldante e a temperatura deveria estar em torno dos 30 graus. O André e eu estávamos comemorando mais aquele dia de calor e céu aberto. Às 12:00 em ponto chegamos à passarela de madeira que dá acesso à gruta.
Como a maré estava baixa, foi possível entrar na gruta para fotografá-la. Já vi depoimentos na internet dizendo que quando a maré sobe torna-se praticamente impossível entrar naquele lugar.
O André e eu aproveitamos a ocasião para subirmos no topo do costão da ponta sul, onde era possível ter uma vista panorâmica das Praias do Mar de Fora das Encantadas.
Quando descemos do morro, presenciamos uma cena um tanto quanto engraçada: Enquanto o forte sol escaldante rachava nossas cabeças, um grupo de evangélicos, composto por cerca de 30 pessoas, estavam indo sentido à gruta. O que nos chamou a atenção é que todos estavam trajando roupa social, sapatos sociais e salto alto, no caso das mulheres. O André e eu, observando a cena, chegamos a comentar como era possível alguém estar vestindo roupa social na praia com o calor que fazia aquele dia. Nessa vida tem de tudo mesmo.
Após os passeios que fizemos naquele dia, resolvemos ir à Praça de Alimentação, localizada na própria praia, para comer algo pois estávamos desde cedo sem comer nada. Chegando lá havia apenas um estabelecimento aberto e acabamos almoçando por lá mesmo. Às 14:30 decidimos ir embora. Perguntamos a moça do restaurante se havia transporte para a Praia de Brasília e ela nos informou que poderíamos pegar um barco na Praia das Encantadas e assim o fizemos.
Às 15:00, chegamos na praia nos dirigimos à cabine onde são vendidos os ingressos para Pontal do Sul ou para Brasília. As passagens para Brasília saíram por R$ 10,00 por pessoa. A próxima embarcação sairia apenas às 16:00, já que o último barco tinha acabado de sair. Como estávamos sem pressa, decidimos aproveitar e conhecer a praia. Retornamos no horário marcado. O barco saiu do trapiche das Encantadas rumo à Praia de Brasília sem atrasos. A nebulosidade aumentou bastante durante os cerca de 20 minutos de travessia.
Quando desembarcamos em Brasília, vimos um grupo de pescadores. Como este era nosso último dia na Ilha do Mel, precisávamos encontrar algum barqueiro que fizesse a travessia para Superagui. No dia anterior tínhamos falado com um morador da Praia da Fortaleza e ele queria R$ 200,00 para nos levar até lá. Achamos o valor muito alto! O André e eu perguntamos aos pescadores quanto eles cobrariam para fazer a travessia para Superagui ai um barqueiro chamado Ronaldo disse que o preço da travessia sairia por R$ 150,00. Fechamos com ele e marcamos de nos encontrarmos na praia do Istmo às 9:00 da manhã do dia seguinte.
30 de Julho de 2015
4º dia: Ilha de Superagui (PR) até Ilha do Cardoso – Núcleo Marujá (SP)
Na manhã seguinte, tomamos café na pousada e depois nos despedimos do Junior e da Dona Alice. Seguimos para a praia do Istmo. Chegamos no horário que havíamos combinado com o barqueiro porém não vimos nem sinal dele. Perguntamos a um pescador que estava na praia se ele conhecia o Ronaldo. Ele nos disse que conhecia e que ele tinha ido para Pontal do Sul abastecer. Como a neblina que fazia naquela manhã estava muito intensa, ele não tinha conseguido ir mais cedo e, por isto, acabou atrasando. Ficamos cerca de meia hora esperando. Às 9:30 o Ronaldo chegou e nós embarcamos sentido Ilha de Superagui.
Quando iniciamos a travessia a neblina começou a dissipar, dando lugar ao sol e céu azul. Assim que desembarcamos na Ilha, por volta de 10:05, notamos que muitas crianças estavam entrando em uma embarcação ancorada no píer da Vila. Pelo horário imaginamos que elas se preparavam para ir à escola. Como a Ilha de Superagui pertence ao município de Guaraqueçaba, desconfiamos que as crianças deveriam estudar lá.
Praia de Superagui – Parque Nacional do Superagui
Aproveitamos a passagem pela Vila para tirar algumas fotos. Na frente do píer há um barzinho e decidimos pedir informações ao dono do bar. Perguntamos a ele como poderíamos chegar a Praia Deserta e ele nos disse que daria para seguir pela praia mesmo. Como a maré estava baixa não teríamos problemas. Além do mais, se pegássemos a trilha que cruza a Vila de Superagui teríamos que atravessar algumas pontes em mal estado de conservação e isso estava fora de cogitação com as bicicletas e as cargueiras que estávamos carregando.
Após fotografarmos a Vila de Superagui resolvemos seguir viagem. A Praia Deserta tem cerca de 30 quilômetros de extensão. Nossa preocupação era conseguirmos atravessá-la e passar pelas “galhadas” antes da maré subir. Para aqueles que não sabem, no final da Praia Deserta existe um trecho de cerca de um quilômetro que torna-se intransponível quando a maré está alta, porque no local o mar avança sobre a praia e quebra no barranco. Com a força das águas as árvores tombam formando a “galhada”. Com a mata densa na encosta, é praticamente impossível avançar pela vegetação com bicicletas e mochilas. Portanto, a nossa esperança era chegarmos do outro lado da praia antes da maré subir.
Pois bem, decidimos não ficar sofrendo por antecipação e seguimos pedalando pela praia aproveitando o sol e as belas paisagens daquela imensa praia deserta. Durante todo o trajeto apenas um ciclista, supostamente morador da Vilazinha de Superagui, passou por nós. Avistamos, ainda, algumas carcaças de tartarugas marinhas, muitas conchas, bolachas do mar enormes, quero-queros e gaivotas.
O pedal seguiu bem, tranquilo e sem imprevistos. Às 13:40, chegamos no final da Praia de Superagui. Neste ponto já nos encontrávamos nas “galhadas” e já não era mais possível pedalar e, em paralelo a isto, um leve nevoeiro começou a se formar.
Galhadas no Final da Praia Deserta – Parque Nacional do Superagui
Como nós sabíamos que poderíamos chegar nas galhadas e não conseguir passar, o André e eu levamos apitos para apitarmos para algum barqueiro que pudesse nos atravessar para a Ilha do Cardoso. Pois bem, para nossa sorte e alegria havia um barco pescando a cerca de um quilômetro de onde estávamos. Começamos a apitar e acenar para ele, porém o barco nem se mexia. Após 15 minutos apitando notamos que um outro barco, que havia saído supostamente da Barra do Ararapira, vinha vindo em nossa direção.
O barco estava sendo conduzido por dois meninos entre 10 e 15 anos. Perguntamos a eles quanto cobrariam para nos atravessar para a Ilha do Cardoso e eles disseram que ficaria R$ 15,00 por pessoa. Pois bem, fechamos negócio, colocamos as bikes, cargueiras no barco e subimos. A travessia durou cerca de 10 minutos. Finalmente, às 14:20 desembarcamos na Ilha do Cardoso, bem na divisa entre os Estados do Paraná e São Paulo.
Amarrarmos as cargueiras nas bikes e seguimos por uma trilha que adentra uma pequena vila no extremo sul da Ilha até chegarmos à praia. Com a maré cheia o pedal tornou-se bem cansativo, pois tínhamos que pedalar muito próximo da restinga onde a areia é muito fofa. Seguimos pedalando até encontramos uma foca tomando sol na beira da praia. Quando ela nos viu, ela se assustou e rapidamente entrou no mar.
O clima neste lado do litoral é muito instável. Uma hora o tempo fecha e o nevoeiro toma conta da paisagem. Logo em seguida as nuvens somem e dão lugar ao sol e céu azul. Enquanto pedalávamos sentido Marujá as nuvens desapareceram. Continuamos o pedal aproveitando e contemplando aquela bela praia deserta. Às 16:20 chegamos na entrada da trilha que dá acesso ao Vilarejo de Marujá onde chegamos cerca de cinco minutos depois. Assim que chegamos o André, que já conhecia a Ilha do Cardoso, encontrou a Val, uma senhora muito simpática que é proprietária de um restaurante no Vilarejo. Ele perguntou se ela sabia de algum lugar onde pudéssemos ficar. A Val disse que iria falar com a Margareth, sua comadre, e que ela nos faria um precinho bom. Fechamos R$ 30,00 a diária, porém sem café da manhã. Como passamos dois dias na Ilha do Cardoso, o custo total foi de R$ 60,00 por pessoa. Acabamos tomando café da manhã no restaurante da Val. Ela cobrava R$ 12,00 por pessoa, porém o café lá era bem reforçado. Valeu a pena!
Como já era final da tarde, resolvemos aproveitar e tirar umas fotos do pôr do sol no píer de Marujá, que é sensacional.
Pôr do Sol na Vila de Marujá – Parque Estadual da Ilha do Cardoso
Após o longo pedal entre Superagui e Marujá, estávamos exaustos e resolvemos ir dormir cedo para acordar cedo no dia seguinte e aproveitarmos o dia nas praias da Ilha do Cardoso.
31 de Julho de 2015
5º dia: Ilha do Cardoso - Praias de Lajes, Fóles, Folinho e Cambriu
Na manhã seguinte, levantamos cedo para aproveitarmos o dia na Ilha do Cardoso. Fomos no restaurante da Val tomar café da manhã que acompanha bolo, frutas, geleia e pão caseiro. Às 9:30, pegamos as bikes e iniciamos o pedal pela praia. O roteiro deste dia se dava em visitar as Praias de Lajes, Foles, Folinho e Cambriu. Com roteiro já previamente definido seguimos pela areia pedalando até a ponta norte da Praia de Marujá. A faixa de areia é interrompida por um costão de pouco mais de um quilômetro de extensão que é necessário atravessar para chegar à Praia de Lajes. O André tinha estado na Ilha do Cardoso cerca de quatro meses antes e ele me disse que era possível seguir pelo costão carregando as bikes em alguns trechos mas sendo possível empurrá-las em outros já que, segundo ele, haviam diversas pedras retas pelo caminho.
Sendo assim, logo de cara começamos a carregar as bikes para chegar as primeiras pedras mais retas do trajeto. Neste ponto foi possível empurrar as bicicletas por cerca de 50 metros, mas o sobe e desce torna o trajeto muito cansativo e perigoso uma vez que existem pedras escorregadias pelo caminho. Seguimos com as bikes por um trecho de no máximo 200 metros por cerca de 30 minutos. Chegamos à conclusão que seria inviável tentar chegar com bicicletas à Praia de Lajes e mesmo se conseguíssemos teríamos que voltar pelo mesmo lugar o que estava fora de cogitação. Decidimos deixar as bicicletas amarradas entre duas pedras no costão em local seguro onde o mar não tivesse possibilidade de alcança-las caso a maré subisse.
Tentando passar com as bikes pelo costão até a Praia de Lajes
Seguimos pelas pedras, agora mais leves por não estarmos mais carregando as bikes, quando encontramos dois caiçaras pescando no costão. Pelo visto o mar estava para peixe para eles naquele dia, pois contamos cerca de quatro sacos cheios de peixes. Continuamos nosso trajeto e, às 10:45, chegamos a um mirante onde já era possível ver a Praia de Lajes. Fizemos uma pausa no local para fotografarmos.
Praia de Lajes – Olhando da Ponta Sul
Às 11:00, decidimos seguir adiante. Pegamos uma trilha muito bem demarcada, porém próxima de uma vegetação cheia de espinhos, que desemboca na praia. Encontramos uma biquinha e aproveitamos para encher nossas garrafas que já encontravam-se praticamente vazias. Seguimos por aquela imensa praia deserta por pouco mais de uma hora. No caminho passamos por diversas conchas e bolachas do mar. Às 12:20, chegamos a ponta norte da Praia de Lajes. Logo de cara é possível ver uma trilha que sobe o costão e dá acesso a mais um mirante, muito bonito por sinal, que foi alvo de uma parada para fotos e descanso naquela sexta-feira ensolarada.
Praia de Lajes – Olhando da Ponta Norte
Às 12:50, seguimos pela trilha que serpenteia o costão. Pelo caminho belas paisagens da praia de Foles além do mar que premiava nossos olhos. Cerca de dez minutos depois, às 13:00, chegamos na Praia de Foles. A praia tem cerca de um quilômetro de extensão. No local existem algumas residências caiçaras. Levamos cerca de quinze minutos para cruzar toda a praia. Logo em seguida chegamos a mais uma trilha bem curta, desta vez, que dá acesso à Praia de Folinho.
A Praia de Folinho é mais curta ainda que a de Foles, com cerca de 200 metros extensão. Passamos por ela muito rapidamente e já acessamos a trilha que dá acesso à próxima praia. Seguimos por esta trilha por cerca de dez minutos até chegarmos a Praia de Cambriu. Assim que cheguei lá me dei conta que eu havia visto uma foto no Google Earth da Praia de Cambriu tirada do alto de algum morro. Imediatamente eu falei para o André que precisávamos voltar e procurarmos a trilha que daria acesso ao topo do morro. Missão dada é missão cumprida. Voltamos pela trilha e começamos a procurar algum local que pudéssemos subir ao topo do morro. Como a vegetação do morro é bem rasteira, decidimos subir no vara-mato mesmo. Após alguns incômodos, conseguimos chegar ao topo, onde foi possível fotografarmos de cima não apenas a Praia de Cambriu mas todas as demais praias que tínhamos acabado de passar. Sem sombra de dúvidas, esse mirante foi a melhor parte do passeio.
Praia de Cambriu vista do alto do Morro
Praias de Lajes e Foles vistas do alto do Morro
Às 14:30, após muitos momentos de descontração naquele belo mirante, decidimos retornar, pois ainda tínhamos um logo caminho a percorrer. Apesar de termos feito um vara-mato para subir no morro, acabamos encontrando a trilha oficial e descemos por ela. Voltamos felizes da vida, porque o dia ensolarado que fizera e as belas paisagens que fotografamos haviam feito o dia valer muito a pena na Ilha do Cardoso. Após uma longa caminhada, às 16:30, chegamos, novamente, ao costão da Praia de Lajes, porém tivemos uma surpresa: A maré tinha subido e um trecho de areia por onde tínhamos passado na ida havia virado um marzão na volta. Isso nos deixou um pouco preocupados, porque as bikes haviam ficado nas pedras do costão e ainda teríamos que carregá-las por um trecho.
Decidimos não sofrer por antecipação. Começamos a contornar as pedras para conseguirmos acessar a trilha. Assim que chegamos nela, seguimos observando o nível de mar e apesar da maré estar alta, chegamos à conclusão que as bikes estavam seguras onde havíamos deixado. Às 16:50 chegamos ao ponto onde as bikes estavam. O desafio agora seria chegarmos do outro lado do costão. Todo cuidado é pouco porque as armadilhas são muitas carregando as bikes por entre as pedras. Felizmente tudo deu certo e conseguimos retornar à Vila Maruja porém o cansaço era grande. Apesar dos pequenos imprevistos, com certeza o dia valeu muito a pena.
Após um dia bem agitado, o jeito foi jantar no restaurante da Val: Arroz, feijão, pirão, salada e peixe frescos. Enquanto matávamos a fome um senhor, morador da Ilha, o Seu Salvador começou a conversar conosco – chegamos a pensar que ele era o Senhor Cardoso, “dono” da Ilha. Mas na realidade ele é um tradicional caiçara que mora próximo à Vila de Marujá. Chegamos a perguntar para ele se ele conhecia o Senhor Cardoso e ele nos arrancou risos quando nos disse que havia 70 anos que ele morava na Vila e que nunca tinha visto esse “tal de Cardoso”. Foi um papo bem legal e agradável. A receptividade do povo da Ilha é sensacional.
01 de Agosto de 2015
6º dia: Cananéia, Ilha Cumprida e Iguape
No dia anterior, havíamos perguntado para a Margareth, a dona da pousada - se ela conhecia alguém que fazia a travessia de barco até Cananéia e ela nos informou que, por coincidência, seu cunhado estava indo lá na manhã do dia seguinte, no sábado, por volta de 8:00, e que ele poderia nos levar até lá. Fechamos o barco com ele e o preço ficou R$ 60,00 por pessoa.
Na manhã seguinte, no horário combinado, encontramos com o barqueiro no píer da Vila de Marujá. Tudo indicava de que teríamos mais um dia de sol e calor escaldantes. O barco saiu com alguns minutos de atraso. A travessia completa durou cerca de 50 minutos e às 9:10 da manhã demos entrada no píer de Cananéia. Como não poderia ser diferente, eu resolvi pagar um mico assim que cheguei na cidade: Ao invés de eu descer do barco pela escada do píer, preferi enfiar o pé na lama – literalmente. Para completar, quanto mais eu pisava, mais o meu pé afundava no lamaçal. Como eu estava de chinelo Havaianas, as chances dela quebrar eram grandes, então tive que enfiar a mão na lama para tirar os meus chinelos que, também, estavam afundando. Resultado, fiquei com as pernas e as mãos cheias imundas. Pedi ao André para ele cuidar da minha bagagem e bicicleta e fui me lavar no rio.
Assim que terminei de limpar a lama das minhas pernas, amarrei a minha mochila na bike e, em seguida, saímos para tomar sorvete enquanto aguardávamos o horário da balsa que sairia às 10:30 para Ilha Cumprida. Na sorveteria um homem viu nossas bikes e nossa bagagem começou a conversar conosco. Ele nos disse que morou em Santo André e que há 8 anos havia se mudado para Cananéia e que não trocava aquele lugar por nenhum outro. O papo foi bem agradável.
Às 10:25, decidimos correr para a balsa e evitar perdê-la e atrasar a nossa volta para Iguape. A travessia de balsa durou cerca de quinze minutos. Sabendo que teríamos que pedalar 61 km da balsa até o Centro de Iguape naquele sábado de sol forte, decidimos começar o pedal, às 11:00 da manhã. Pedalamos cerca de quatro quilômetros da balsa até a orla e, em seguida, seguimos pela praia de Ilha Cumprida. A maré estava baixa e nos permitia desenvolver boa velocidade. Porém, com o calor insuportável que fazia naquele dia, comecei a me sentir um mal e por isso, decidi reduzir o ritmo para evitar cansar rápido demais. Apesar do cansaço, nós seguimos contemplando as dunas da Ilha Comprida no trecho do Sul para Norte, elas são realmente fantásticas.
Dunas de Ilha Cumprida
Às 13:10, chegamos ao Balneário Pedrinhas, onde havia um quiosque lotado de gente – até pelo fato de ser o único daquela praia. Estacionamos as bikes e sentamos para descansar, comer e beber. O André mandou duas cervejas para dentro e eu pedi dois sucos de limão e uma porção de peixe para acompanhar. As cervejas vieram rápido, mas meus sucos demoraram para vir. Na realidade, o homem do quiosque era mais atrapalhado que uma porta. Foi um pequeno estresse, mas que não valeria a pena discutir.
Ficamos cerca de uma hora lá descansando, quando decidimos que era hora de retomar a pedalada, cerca de 14:00 horas. Apesar da pausa, eu ainda estava cansado e para piorar os sucos não caíram bem. Já era a segunda vez que eu tomava suco de limão e logo em seguida sentia uma grande queimação no estomago visto que isto também ocorreu comigo na Ilha do Mel, só que desta vez nós não tínhamos nenhum efervescente nas mochilas. Tive que “tratar” a queimação estomacal com água mesmo. E o calor que fazia naquele dia só contribuía para aumentar ainda mais o cansaço e o mal estar.
A praia da Ilha Cumprida é imensa e não há muitas árvores no local. Por esta razão, pedalamos por mais uma hora até encontrarmos uma sombra para fazermos mais uma parada. O cansaço era tanto que eu acabei cochilando por cerca de 20 minutos.
Após essa parada, seguimos o pedal novamente, mas desta vez eu já havia melhorado um pouco. Às 15:40, decidimos sair da praia e pedalar pela estrada de cascalho a afim de tentar aumentar o ritmo do pedal. O cascalho também não aumentou a velocidade como esperávamos, mas para nossa alegria o trecho durou pouco, porque logo em seguida iniciou-se o trecho de asfalto e isso contribuiu para recuperarmos um pouco do tempo perdido. Seguimos pedalando por cerca de 25 quilômetros do início do asfalto até a Ponte que liga Ilha Cumprida à cidade de Iguape, onde chegamos às 18:00. Felizmente ainda tivemos tempo de registrar um belo pôr do sol.
Pôr do Sol visto da Ponte que liga Ilha Cumprida a Iguape
Assim que chegamos em Iguape, a cidade encontrava-se lotada. Era época da festa em louvor ao padroeiro da cidade, o Senhor Bom Jesus de Iguape. Nestas datas comemorativas, a cidade recebe um fluxo muito grande de turistas. É comum ver carros estacionados em todos lados, ruas fechadas e até pessoas acampadas pelas praças a cidade. É uma época de bastante agitação e que traz renda para cidade e para a população local que depende do turismo.
Passamos pela festa muito rapidamente e fomos encontrar o Luciano – nosso amigo que mora na cidade. Com a reorganização do transito que a prefeitura faz em decorrência da festa, o Luciano teve que deixar meu carro em uma outra rua próxima, já que a rua dele fica praticamente interditada na época desta festa. Além do imenso favor e cuidado com meu carro, ele ainda nos permitiu, gentilmente, que passássemos a noite na sua casa, mais uma vez, ele nos ajudou demais!
Graças a Deus não tivemos nenhum contratempo durante essa cicloviagem. Foi uma experiência formidável e onde conhecemos pessoas maravilhosas e visitamos lugares fantásticos. Mas além de todas as boas experiências que passamos no Lagamar, não podemos deixar agradecer mais uma vez o Luciano e toda sua família que sempre que visitamos Iguape nos recebem com o maior carinho e consideração. Sem dúvida alguma, esse passeio não teria dado tão certo se não fosse o apoio do Luciano e de sua família.
Ter realizado essa cicloviagem foi realmente uma experiência fantástica e espero que este relato possa inspirar outros mochileiros e aventureiros a explorarem toda a beleza guardada nesse trecho tão bem preservado do litoral brasileiro.
Autor: Ricardo Carvalho
Participação: André Pimentel
Agradecimentos: Luciano Faustino e família
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